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Novelas Inesquecíveis – Os Ossos do Barão (1973)

Primeira trama de Jorge Andrade, intelectual migrado para a teledramaturgia e bem recebido pelo público



        Os Ossos do Barão foi a  primeira novela do consagradíssimo  intelectual e autor de teatro Jorge Andrade. A trama era a junção de duas peças de teatro de sucesso dele  – Os Ossos do Barão e A Escada.  A junção das duas obras foi um casamento perfeito,   com uma  se ajustando e dando funcionalidade a outra e  aos entrechos da novela.
        Depois de muitos apelos Jorge Andrade se rendia  à teledramaturgia,  e a novela  virou um dos grandes sucessos da Rede Globo da década de 70. Com um texto estruturado e  intelectualizado Os Ossos do Barão  foi um obra perfeita sem os habituais esticamentos, e pela primeira vez o grande público “comprava” uma trama intelectualizada no gênero tão popular das telenovelas.


        A novela contava a história de Egisto Ghirotto (Lima Duarte), descendente de italianos,  que fora criado como empregado na fazenda de propriedade do Barão de Jaraguá, e acabou fazendo fortuna com a Revolução Industrial de São Paulo, enquanto os tradicionais paulistas seguiram o caminho inverso junto à decadência do comércio cafeeiro. Hoje, o velho Antenor (Paulo Gracindo), o filho do barão, vive das lembranças do passado e ainda acredita possuir a fazenda do pai e suas riquezas. Mas a família do barão está falida. Enquanto os mais conservadores vivem de aparências, outros tentam se adaptar à nova realidade, causando assim conflitos, principalmente entre pais e filhos.
Ninguém estava feliz. Os quatrocentões por terem caído em desgraça, e Egisto, por não possuir um título de nobreza. Só que este pode se vangloriar de ter tudo que pertencera ao barão. Inclusive os ossos, após comprar sua cripta mortuária. Mas o sonho do título de nobreza só pode ser conquistado com o casamento do filho, Martino (José Wilker), com a bisneta do barão, a jovem Isabel (Dina Sfat). E Egisto empreende-se na conquista. Estava feita a aliança da aristocracia rural decadente com a imigração enriquecida pela indústria.

Lima Duarte e Paulo Gracindo, que vinha do grande sucesso de O Bem Amado (1972), repetiram a dobradinha de sucesso e brilharam como os protagonistas da novela.  Eghisto Girotto foi o primeiro protagonista oficial  do ator na Globo.
A escalação do Lima para viver o protagonista  causou controvérsias dentro da Globo. Apaixonados pela obra de Jorge Andrade não perdoaram o fato de Otelo Zeloni, o ator ítalo-brasileiro  não ter sido escalado para viver o personagem, repetindo o sucesso que  lhe consagrara no teatro brasileiro. Zeloni acabaria não terminado a novela, ele veio a falecer em dezembro de 1973.

Lélia Abramo, como Bianca – que também defendera no teatro – brilhou repetindo o trabalho no palco.
Dina Sfat, na época com 34 anos, viveu a personagem Isabel, que na trama tinha apenas 18 anos. A atriz declarou depois em entrevistas, que mesmo aos 18 anos nunca teve o rostinho de mocinha de 18 anos, mas mesmo assim,   acatou a ordem de Daniel Filho para viver a personagem.
Marília Carneiro, famosa estilista das obras globais, assinava seu  primeiro trabalho na emissora com  novela  Os Ossos do Barão. A Autora teve um trabalho difícil em adaptar tecidos e cores para a apresentar na trama, visto que as cores tinham acabado de chegar a tv, dando um trabalho em dobro aos figurinistas da época.

A APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) premiou Os Ossos do Barão como a melhor novela de 1974 (juntamente com O Espigão Os Inocentes, esta da Tupi). Neste ano, a novela rendeu ainda o prêmio de melhor atriz para Neuza Amaral e Elza Gomes (juntamente com Betty Faria e Suzana Vieira, por O Espigão, e Cleyde Yáconis, por Os Inocentes).
A estreia de Bibi Vogel na Globo se deu na trama, e isso era anunciado como grande chamariz nas chamadas de estreia de Os Ossos do Barão.
O SBT produziu um remake da trama em 1997, com Leonardo Villar e Juca de Oliveira,  nos papéis de Antenor e Egisto; e Tarcísio Fiho e AnaPaula Arósio como Martino e Isabel. Ao remake  foi  somado personagens de outra trama do Jorge AndradeNinho da Serpente, produzida pela Tv Bandeirantes em 1982.
Gracindo Junior, filho de Paulo Gracindo, teve uma das suas primeiras experiências no teatro na peça A Escada, vivendo o personagem Omar. Em Os Ossos do Barão o ator voltou a viver o mesmo personagem. A Trama de Omar e seu par romântico Zilda, personagem da saudosa Sandra Bréa,  causou grande polêmica dentro da história. Ele um mulato, ao se apaixonar por Zilda, filha de Miguel (Leonardo Villar) e Verônica (Maria Luiza Castelli), e bisneta do Barão de Jaraguá, é constantemente humilhado por Antenor, por ser filho de Senhorita (Chica Xavier), ex-escrava da fazenda de seu pai.

Durante a novela Jorge Andrade sofreu um infarto e teve que se afastar da trama por algum tempo, deixando Os Ossos do Barão nas mãos de Bráulio Pedroso.
Infelizmente, todos os capítulos de Os Ossos do Barão foram perdidos num incêndio que a Globo sofreu em 1976, ficando apenas algumas chamadas de estreia da trama.
A trama é um panorama da decadência da aristocracia rural paulista e ascensão social dos imigrantes visto pela  perita ótica intelectual de Jorge Andrade.
Ficha Técnica:

Novela do Autor Jorge Andrade
Direção Geral: Régis Cardoso e Gonzaga Blota
Elenco:
PAULO GRACINDO – Antenor Camargo Parente de Rendon Pompeo e Taques
LIMA DUARTE – Egisto Ghirotto (Fernão Dias)
JOSÉ WILKER – Martino
DINA SFAT – Isabel
CARMEM SILVA – Melica (Amélia)
LÉLIA ABRAMO – Bianca
LEONARDO VILLAR – Miguel
MARIA LUÍSA CASTELLI – Verônica
EDNEY GIOVENAZZI – Vicente
BIBI VOGEL – Lavínia
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Luigi
RENATA SORRAH – Lourdes
SANDRA BRÉA – Zilda
GRACINDO JÚNIOR – Omar
NEUZA AMARAL – Maria Clara
ELZA GOMES – Ismália
RUTH DE SOUZA – Elisa
PAULO GONÇALVES – Carlino
RACHEL MARTINS – Rosa
HENRIQUETA BRIEBA – Lucrécia
SUZY KIRBI – Clélia
ANTÔNIO PETRIN – Sebastião
CHICA XAVIER – Senhorinha
ANTÔNIO PITANGA – Misael
JACYRA SILVA – Doralice
LÉA GARCIA – Marlene
JOÃO CARLOS BARROSO – Ricardo
TAMARA TAXMAN – Laura
JORGE BOTELHO – Rúbens
MONIQUE LAFOND – Gláucia
AMELIN FIANI – Carolina
IVAN DE ALMEIDA – Quim
JORGE COUTINHO – José
JACKSON DE SOUZA – Batista
CASTOR GUERRA – Luís
LUIZ GUERRA – Júlio
JORGE LUIZ – Pedro
e
ABEL PERA – louco
ALCIRO CUNHA – delegado
ANA CRISTINA FARIA – enfermeira
ANTÔNIO VICTOR – Abílio (Barão de Jaraguá)
CLAUDIONEY PENEDO – fruteiro
CLEMENTINO KELÉ – operário
FÁBIO MÁSSIMO – Egisto (criança)
FERNANDO JOSÉ – Amadeu (gerente do banco)
GONZAGA VASCONCELOS – vendedor
GLÓRIA PIRES – Bianca (criança)
GRANDE OTELO – bêbado
JORGE ALEXANDRE VIEIRA – Miguel (criança)
LISA NEGRI – Magali
LOUISE MACEDO – secretária de Egisto
LUÍS MAGNELLI – corretor
MANFREDO COLASSANTI – pai de Egisto
MARIA TERESA BARROSO
OTÁVIO AUGUSTO – Manfredo
TALITA DE MIRANDA – louca
THELMO DE AVELAR – delator
Exibição: 10 de Outubro de 1973 à 31 de Março de 1974
Capítulos: 150
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa

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